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Os Três Conselhos

Notícias que geram medo, nojo ou surpresa são mais divulgadas, isso acontece por causa de um mecanismo natural das pessoas, o mecanismo do Alarme, que é uma estratégia evolutiva.

Quando há um perigo iminente, nossa tendência é avisar os outro e isso é bom, mostra que nos preocupamos com as outras pessoas e isso vai ao encontro da ideia de preservação da espécie, grupo e relações.

Hoje vou contar uma história que pode ser útil nesse processo de análise crítica das notícias que recebemos. Muito do que chega simplesmente não é verdade, não é bem verdade, ou pode ser verdade. Em qualquer dos casos certamente também cabe ouvir o outro lado da história. Certo?

Há muito tempo em um pequeno povoado, um jovem se apaixona por uma moça, ambos vinham de famílias com poucos recursos, com pouca possibilidade de educação formal, o que não os impedia de desejar um vida feliz em família. Após o casamento, depois de perceber o grande desafio que teria de sustentar-se, bem como sua jovem esposa, o rapaz foi procurar emprego em outras cidades, até que em uma mais distante, encontrou. 

Não era o trabalho dos sonhos, mas era o melhor que tinha encontrado e assim pensou que daquela forma conseguiria trazer dignidade a sua nova família. Voltou para casa e disse para a sua esposa:

  •  Eu consegui um bom trabalho e vou juntar todo o dinheiro que precisamos para criar a nossa família,  vou te mandar uma pequena quantia todos os meses e o resto trarei daqui a algum tempo.

Ela ficou triste com a ideia de afastar-se tão precocemente de seu marido, mas sabia que não havia muito o que se pudesse fazer diante da realidade que viviam, sendo assim, concordou e desejou que tudo desse certo e que ele pudesse voltar o quanto antes.

Assim foi, o rapaz saiu na manhã seguinte, determinado a alcançar o seu objetivo e cuidar de sua esposa da melhor forma possível.

Quando chegou ao encontro de seu empregador, agradeceu a oportunidade e disse exatamente o que queria.

  •  Meu senhor, eu não preciso de nada para mim, sou um homem simples, só quero um lugar para dormir e um pouco de comida, todo o dinheiro que o senhor for me pagar, gostaria que guardasse para mim, exceto pela décima parte, que eu gostaria que enviasse para a minha esposa.

O empregador, ouviu atentamente e concordou com o pedido sem questionar, também era um homem honrado e valorizava a família.

Assim foi feito, o rapaz trabalha de sol a sol, sem reclamar e mantendo sua promessa de viver de forma humilde em nome de um sonho, proporcionar uma vida digna para a sua família.

O dinheiro que conseguia com o trabalho era pouco, era um trabalhador braçal e mesmo conseguindo crescer por ser esforçado, tinha pouco entendimento sobre finanças e nunca achava que já tinha o suficiente, por essa razão, foi ficando mais um ano e mais um ano até que ficou fora por vinte anos. Já muito saudoso e cansado de tanto esforço, resolveu voltar para casa e levar o fruto de todos esses anos de trabalho. 

Ele foi falar com o seu empregador e disse que já era a hora de ir embora e que achava que tinha juntado o suficiente.

O empregador, um homem experiente e conhecedor das dificuldades da vida, lhe fez uma oferta final.

  •  Certo, vou pegar o seu dinheiro, mas antes gostaria de lhe fazer uma oferta. Sei que está muito saudoso e que quer voltar para casa, mas sei também que o que viveu aqui pode não ter te preparado para muitos perigos e por isso quero te propor o seguinte.
  •  Você leva todo o seu dinheiro, como foi combinado, ou você me paga 95% de tudo o que ganhou por três conselhos que valem muito mais do que o seu dinheiro. O que me diz?

O empregado ficou confuso, sabia que o empregador era um homem bom, vivido e muito experiente, que nunca havia lhe faltado com a verdade. Será que esses conselhos eram tão valiosos assim? E se não fossem, quanto perderia? Diante do dilema e talvez incapaz de raciocinar com clareza naquele momento, resolveu aceitar a proposta de seu empregador, ele pagaria 95% de tudo o que havia ganhado, pelos três conselhos que o homem tinha para ele.

  •  Certo, então aqui vão os conselhos:
  1. Nunca se desvie do seu caminho;
  2. Nunca se meta onde não for chamado, se possível ofereça ajuda, caso contrário, não se meta;
  3. Nunca faça nada de cabeça quente, espere pelo menos um dia.

O empregado ouviu atentamente e depois, com sentimento de frustração, aceitou seu destino, havia usado 95% de tudo o que tinha ganhado durante 20 anos para ouvir aqueles conselhos triviais, naquele momento sentiu-se mal, mas não era homem de voltar atrás no que dizia e ainda por cima, já não aguentava mais de tanta saudade de sua esposa. Aceitou o seu destino e preparou-se para seguir viagem.

O empregador, ainda disse: – Vou te dar o seu dinheiro, comida para a viagem de volta e um presente para a sua mulher, mas você só deve abri-lo junto com ela, na sua primeira refeição, aceita essa condição? O empregado disse que sim e foi descansar para sair logo cedo no dia seguinte. E assim foi, pegou seus poucos pertences, o presente e a comida e partiu.

Antes do amanhecer iniciou a sua viagem. Em seu antigo local de trabalho, somente o empregador o viu partir e acenou na despedida.

Alguns quilômetros à frente, havia um homem na beira da estrada, que o abordou.

  •  Ei amigo, para onde você está indo?
  •  Estou indo para a minha cidade.
  •  Onde fica?
  •  Mais ou menos três dias de viagem, por essa estrada.
  •  Deixa eu te falar uma coisa, entre por esse atalho, tenho certeza de que vai chegar muito antes, aqui você corta muito caminho e também é seguro. Eu estou indo por aqui também, se quiser podemos ir juntos.

O viajante, achou uma boa ideia, mas quando começou a seguir o outro homem, lembrou-se do primeiro conselho de seu ex empregador.

  • Lembre-se, nunca se desvie do seu caminho;

E acabou voltando para a estrada. Depois de várias horas de caminhada, já a noite, chegou a uma pousada e foi recepcionado pelo dono.

  •  Seja bem vindo.
  •  Muito obrigado, preciso de um quarto para passar a noite.
  •  Claro, temos mais um quarto sim e fico feliz que tenha chegado bem.
  •  Obrigado, mas por que o senhor diz isso?
  •  Porque no caminho por onde o senhor chegou há relatos de ladrões. O senhor foi abordado por um homem alto usando um capuz marrom?
  •  Sim, lembro dele.
  •  Ele o convidou para entrar num atalho pela floresta?
  •  Sim, foi o que ele disse, que era um bom atalho e que era seguro, mas resolvi seguir pela estrada.
  •  Que bom que o senhor não aceitou, ele ia te levar para um local onde outros ladrões iriam te roubar e às vezes até matar.

Assustado com a história, o viajante pagou o quarto, pegou a chave e foi logo descansar. Antes de pegar totalmente no sono, ouviu uma discussão entre um casal. Ele ficou preocupado, porque estavam falando alto e era possível ouvir barulhos estranhos, parecia que havia alguém sendo agredido. Ele pensou em sair do quarto e saber o que estava acontecendo, mas quando colocou a mão na maçaneta e ia virar a chave lembrou-se do segundo conselho:

  •  Nunca se meta onde não for chamado, se possível ofereça ajuda, caso contrário, não se meta.

Decidiu então voltar para a cama e esperar e acabou caindo no sono, tamanho era o cansaço da viagem. No dia seguinte, quando passou pela recepção viu policiais, o dono da pousada olhando assustado perguntou:

  •  O senhor também foi roubado?
  •  Não senhor, por quê? O que houve?
  •  Um casal de ladrões, se hospedou aqui no hotel e fizeram barulho durante a noite, simularam uma briga e quando os hóspedes saiam para saber o que estava acontecendo, eram assaltados. Graças a Deus que o senhor não saiu.

E assim voltou para a estrada, com sentimento de alívio e começando a entender que os conselhos que recebera tinham sim um certo valor.

Mais um dia de estrada passou e finalmente, no início da noite, chegou ao seu antigo vilarejo. Conseguiu reconhecer a sua casinha, continuava simples, mas muito bem cuidada. Aproximou-se da janela e viu sua amada, nesse momento uma imagem o chocou muito, ela estava acariciando um homem. A ira tomou conta dele que naquele momento. Agarrou a sua faca e um filme de todos aqueles anos de trabalho, tudo o que tinha feito por ela, passou em sua mente. Não é justo, vou me vingar. Nesse momento, o último conselho de seu ex empregador voltou a sua cabeça.

  •  Nunca, nunca faça nada de cabeça quente, espere pelo menos um dia.

Já era noite, estava cansado e resolveu seguir o conselho, largou a faca e voltou para um bosque perto da casa, para passar a noite, no dia seguinte ele faria o que tinha que ser feito.

Depois da noite tensa, logo cedo foi até a casa e bateu na porta. A mulher atendeu, e não conseguiu conter as lágrimas emocionada quando viu o seu marido, mas o abraço não foi correspondido e ela olhou surpresa para ele.

  •  Meu amor, o que houve?

Ele com um misto de tristeza e ódio no olhar respondeu:

  •  Não sou seu amor, ontem eu vi você com um homem na nossa casa, como pode fazer isso comigo?

Sem dizer uma palavra, secando as lágrimas ela o convida para entrar e o leva diretamente para o quarto em estava o tal homem, abre a porta, ele ainda estava dormindo. Então ela pergunta:

  •  É esse o homem que viu ontem a noite?

Ele responde sim com a cabeça sem olhar para ela. Então, ela pega as suas mãos e diz:

  •  Esse é o seu filho, ele já tem vinte anos, engravidei na nossa primeira noite juntos e nunca tive a oportunidade de te contar.

Nesse momento, ele entende o erro que tinha cometido, a abraça e pede desculpas pelo que tinha pensado. Ele pede que ela acorde o rapaz para que façam a primeira refeição como família e nesse momento ele se lembra de que tem um presente para ela, o presente que seu ex empregador havia preparado para aquele momento.

Quando se juntaram a mesa ele pede a ela que abra o presente, aparentemente era um pão recheado enorme. Quando ela o corta, uma surpresa, todo o dinheiro que tinha ganhado naqueles 20 anos, estava lá.

Sou Alberto Martin, professor de Linguagem de Influência e às vezes, contador de histórias.

Os conselhos são:

  1. Não se desvie do seu caminho;
  2. Nunca se meta onde não é chamado, se possível ofereça ajuda, caso contrário, não se meta;
  3. Nunca aja no calor da emoção, espere pelo menos um dia.

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